Como ousar fazer-se professor na conjuntura atual
A complexidade do educar assume diferentes proporções quando somos questionados sobre quem recai a responsabilidade de se educar (efetivamente) o indivíduo. Diferentes visões vêm à tona no momento em que se estreitam as relações de escola enquanto instituição e da sociedade. Acabou-se por confundir os significados de educação e de instrução, e parece-nos que no século XXI a escola tornou-se a única responsável pelos problemas que assolam os adolescentes e desencadeiam na sociedade um descontrole cada vez maior dos limites de cada indivíduo.
Assim a educação caracteriza-se pela junção de nossos aprendizados culturalmente transmitidos; nossos valores morais e éticos que respondem por nossas decisões e atitudes. O instruir refere-se a transmitir conhecimento, exercitar, ensinar, papel da escola! De fato, a escola também se responsabiliza pela complementação do ato de educar, mas tem no instruir o seu objetivo central, formar indivíduos pensantes que usem da razão como sua maior arma para a transformação
da sociedade.
A escola se propõe a desenvolver uma educação democrática e cooperativa, para que possa refletir sobre uma prática educacional condizente com as necessidades vitais de cada sujeito, contribuindo para a construção do conhecimento científico, utilizando-se de relações interdisciplinares, de idéias e iniciativas, de estímulos a aprendizagem, de difusão de experiência, enfim visa contribuir para uma melhor formação do ser enquanto capacidade científica, cultural e social de desenvolvimento.
O fato é que todo mundo reclama da escola. Os pais, os pedagogos, os alunos, percebem que o ambiente está distante de idealizado. Mas cada um pensa que a culpa do mau funcionamento é sempre do outro, quando se acentuam os problemas inicia-se a discussão e não se consegue chegar na solução das dificuldades.
Além das dificuldades básicas enfrentadas pela escola e cansadamente repetidas – como a pouca disponibilidade de recursos metodológicos, qualidade de infra-estrutura ainda não adequadas ao desenvolvimento de projetos melhores e mais eficazes no ambiente escolar, a baixa remuneração dos profissionais da educação que se sentem cansados e frustrados, o desleixo com a instituição pública subordinada a privada, a falta de material didático de pesquisa, as classes superlotadas, entre outros fatores culturais como os problemas individuais de cada estudante que freqüentemente precisamos resolver na escola e que por vezes a psico-pedagogia encontra dificuldades em fazê-lo.
Os pais se preocupam com a garantia de vagas nas escolas, com os resultados negativos que os alunos apresentam com as reprovações, com a pouca qualificação das crianças e comumente, atribuem as causas aos próprios filhos por serem preguiçosos, distraídos ou não estudarem ou então o professor que não cobra como deveria.
Porém os próprios pais costumam reconhecer sua parcela de culpa ao não acompanhamento do estudo das crianças e/ou adolescentes, não cobrarem o dever de casa, não dialogarem com seus filhos por falta de tempo, trabalho, cansaço e também por não dominarem os conhecimentos que as matérias escolares exigem.
Vemos-nos hoje no século XXI, com talvez o que poderíamos sintetizar nos maiores problemas de conhecimento escolar e chamar de “caos escolar”: a falta de leitura, escrita e interpretação responsáveis pelas maiores dificuldades de aprendizagem das crianças. Infelizmente as ilusórias tecnologias informacionais ganharam mais espaço do que o livro na casa, na vida, na rotina do estudante. Percebe-se com clareza a falta de leitura das crianças que por vezes não conseguem responder simples equações matemáticas, interpretar, argumentar, dissernir, justificar um texto ou produzir pela escrita, uma síntese, transcrever sua idéia. E a cultura é a maior interdisciplinaridade que deve ser discutida na escola, pois é a base da formação do discurso e do raciocínio do estudante.
Diversas são as dúvidas teóricas e práticas que surgem quando tratamos da formação dos profissionais da educação. Atualmente, o ato de aprender é um processo contínuo e a todo momento precisamos estará par das mudanças, das descobertas, das transformações das sociedade, como uma constante reciclagem do nosso pensamento. Desta forma como agente do processo de educação o professor deve estar aberto a novas realidades tanto na sua formação como no decorrer de sua prática profissionalizante docente.
Muitos são os paradigmas que cercam a formação de professores, com diferentes concepções e correntes norteadoras a serem seguidas, porém a postura docente parece-nos ser universal. O professor precisa inicialmente de conhecimento teórico científico, precisando aprender para poder ensinar (fato que se consolida, ou deveria, na academia e é exercitado na atuação no trabalho); O conhecimento teórico é essencial para que o professor possa interpretar o aluno e saber avaliar seu nível de desenvolvimento.
O professor de fato precisa fazer a leitura do mundo, apropriar-se de recursos tecnológicos, desenvolver uma postura reflexiva, utilizar práticas didáticas que o auxiliem no desenvolvimento de sua profissão. O capacitar, o formar professores é, antes de mais nada um movimento de reflexão da própria prática escolar, das estruturas da escola, da consciência de saber como se aprende, como se ensina, como concomitantemente com o aluno se cresce.
Lamentavelmente a formação dos profissionais da educação se dá na perspectiva de capacitar o individuo para a prática “pronta” da docência, quando a aprendizagem somente se efetiva com a mediação dos sujeitos: professor – aluno, aluno – aluno, aluno- professor – sociedade, e quando o educador se depara com diferentes realidades e precisa na prática resolver os problemas individuais de seus educandos. O fazer-se professor, assim como o fazer-se aluno, trabalha com a troca de experiências, informações, pensamentos trocados tanto na capacitação do docente na universidade ou na escola como nas relações cotidianas que se estabelecem no dia-a-dia.
A educação tende a desenvolver o profissionalismo interativo, com constante aperfeiçoamento da escola (professores, alunos, pais, direção e funcionários) onde todos sejam engajados no processo com o pressuposto de aumentar qualitativamente os índices de desenvolvimento e aproveitamento escolar, incitando para a participação positiva nas diferentes ações escolares. Investir em capacitação de profissionais, melhoria do ambiente escolar, incentivo aprendizagem e ao desenvolvimento tecnológico e cientifico a apoio as atividades sócio-culturais no ambiente escolar, procurando propiciar uma educação participativa, que consiga resolver os problemas atuais e despertar para um novo sistema educacional.
O ato de educar consiste basicamente em descortinar novos horizontes. Ser professor não é uma tarefa fácil e não tem fórmulas prontas, métodos completamente eficazes e por vezes nem as aparentemente, melhores tecnologias dão certo.
Ser professor não tem receita. Constrói-se com a prática, com o envolvimento, com a responsabilidade e o comprometimento de cada um com o seu próprio trabalho e com a vida de centenas de outras pessoas, que precisam também do seu conhecimento, porém necessitam basicamente do seu diálogo e da sua aptidão para auxiliá-los a aprender mais e mais.
REFERENCIAS:
FREIRI, Paulo. Professora sim, tia não. São Paulo: Editora Olho da’ Água, 1993.
http://www.eca.usp.br/prof/moran/aprendizagem.htm